Foi o primeiro filme de uma viagem à Lua e quanto a este não restam dúvidas: foi mesmo feito em estúdio. Inspirado pelos romances “Da Terra à Lua” (1865), de Júlio Verne, e “O primeiro homem na Lua” (1901), de H.G. Wells, Georges Méliès conta, em 14 minutos, a história de um grupo de exploradores que, a bordo de uma espécie de foguetão, é projectado por um canhão gigantesco em direcção à Lua. Nascia assim um dos grandes ícones visuais do século XX, com o projéctil a atingir um olho da Lua. Já em solo lunar, os astrónomos são capturados pelo povo selenita – seres aparentemente perigosos, mas que se revelam bastante frágeis quando são atingidos, desaparecendo numa nuvem de poeira. Os cientistas conseguem fugir e regressam à Terra (se não viu o fi lme e a descrição lhe parece familiar, é provável que tenha visto o videoclip da música “Tonight, Tonight”, dos Smashing Pumpkins, que recria algumas destas cenas). Tudo isto é filmado com recurso a efeitos especiais inovadores para a época, como as técnicas de sobre- posição do filme, fusão e exposição múltipla de imagens. Méliès foi também o responsável pelo desenho dos cenários e do guarda-roupa.
Considerado o primeiro filme de ficção científica, “A Viagem à Lua” é uma das obras mais importantes da história do cinema. Trata-se de “uma extraordinária aventura lunar de um intenso surrealismo artístico”, afirma J.B. Martins no seu Cineblog (cineblog.blogs.sapo.pt).
Foi uma das muitas aventuras com que Méliès divertiu crianças e adultos, mas “o autor não se absteve ainda de dar à narrativa uns toques subtis de comentário social – atente-se no fumo que sai das chaminés das fábricas, numa crítica aos efeitos nefastos da revolução industrial”, nota o editor de cinema do site cultural Rascunho (www.rascunho.iol.pt).
O cinema era, literalmente, um mundo mágico para o francês, que durante muitos anos foi um ilusionista de sucesso. Via a sétima arte como um prolongamento dessa sua actividade e inovou no uso desenhos de produção e storyboards para planear as cenas dos filmes. Inquieto, dono de uma imaginação acima do comum, Méliès foi também pioneiro ao fundar a primeira companhia cinematográfica da Europa e ao investir em estúdios de gravação com equipamentos de iluminação, cenários amovíveis, camarins, instalações para os actores e zona técnica.
Quando morreu - em 1938, com 77 anos - tinha feito mais de 500 filmes.
Catarina Santos )